Quem é a noiva de Cristo?

Dez virgens

Muitos costumam dizer que a igreja é a noiva de Cristo. Existe fundamento bíblico para isso?

O objetivo desse estudo é trazer as referências bíblicas que mostram qual o real papel da igreja nas bodas (celebração da festa de casamento), apontar precisamente quem é a noiva, conforme as Escrituras, e identificar os demais personagens indicados na Parábola das 10 Virgens (Mateus 25:1-12) que é o texto base desse estudo.

Para entender o papel de cada personagem da parábola, é preciso compreender um pouco a tradição de Israel no tocante ao casamento.

Jesus contou a parábola para pessoas que estavam bastante acostumadas com os todos os elementos nela mencionados. As bodas eram o desfecho de uma longa jornada que começava com uma promessa, passava pelo compromisso (noivado) e findava com o casamento (bodas), que é o assunto da parábola.

Conforme a tradição, o noivo costumava chegar à casa da noiva à noite, sendo então recebido por damas de honra que iam em direção a ele para o conduzirem até a presença da noiva, iluminando o caminho dele com suas lâmpadas acesas. Uma das atribuições das virgens era a de tornar gloriosa a chegada do noivo. Na época, como não havia iluminação pública tal como temos hoje, as lâmpadas acesas eram realmente necessárias para identificar que ali estava em curso a celebração de uma festa, além de possibilitar a identificação dos convidados da festa pelo noivo.

Como inequivocamente as dez virgens da parábola referem-se à igreja e, tendo em vista o contexto cultural acima explicado, as virgens não podem ser confundidas com a noiva. Na verdade, as dez virgens foram convidadas para uma festa de casamento. Da mesma forma, nós também fomos convidados pelo noivo para participar da festa das bodas. Observe o seguinte texto:

Os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando. Algumas pessoas vieram a Jesus e lhe perguntaram: “Por que os discípulos de João e os dos fariseus jejuam, mas os teus não? ” Jesus respondeu: “Como podem os convidados do noivo jejuar enquanto este está com eles? Não podem, enquanto o têm consigo. Mas virão dias quando o noivo lhes será tirado; e nesse tempo jejuarão. Marcos 2:18-20

Sem dificuldade alguma, é possível perceber que o Senhor Jesus se referiu aos discípulos chamando-os de “convidados”, e não de noiva. Não há como sermos convidados da festa e noiva ao mesmo tempo.

A parábola do rei que celebra as bodas do filho (Mateus 22:1-12) também fala em pessoas convidadas para a festa. Os primeiros convidados daquele texto referem-se ao povo de Israel. Após a recusa, pessoas de todas as partes são convidadas a participarem do importante evento. Estas últimas representam a igreja, pessoas de todas as partes (gentios). A parábola termina com o rei dizendo:

E o rei, entrando para ver os convidados, viu ali um homem que não estava trajado com veste de núpcias. E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo veste nupcial? E ele emudeceu. Disse, então, o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes. Mateus 22:11-13

Por mais de uma vez, a Palavra de Deus nos identificou expressamente como convidados, e não como a noiva de Cristo. Não bastasse isso, a Bíblia nos mostra de forma clara e precisa quem é a verdadeira noiva de Cristo (prometida), a qual se converterá, na ocasião das bodas do Cordeiro, na Esposa do Senhor. Observe:

E veio a mim um dos sete anjos que tinham as sete taças cheias das últimas sete pragas, e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a esposa, a mulher do Cordeiro. E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu. E tinha a glória de Deus; e a sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o cristal resplandecente. E tinha um grande e alto muro com doze portas, e nas portas doze anjos, e nomes escritos sobre elas, que são os nomes das doze tribos dos filhos de Israel (…). Apocalipse 21:9-12

E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. Apocalipse 21:2

Mesmo no Antigo Testamento, vemos algumas referências ao noivado entre Deus e Sião (Jerusalém), tal como acontece entre um marido e uma esposa.

Assim diz o Senhor dos Exércitos: “Tenho muito ciúme de Sião; estou me consumindo de ciúmes por ela“. Zacarias 8:2

Tocai a trombeta em Sião, santificai um jejum, convocai uma assembleia solene. Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai as crianças, e os que mamam; saia o noivo da sua recâmara, e a noiva do seu aposento.” Joel 2:15,16

E serás uma coroa de glória na mão do Senhor, e um diadema real na mão do teu Deus. Nunca mais te chamarão: Desamparada, nem a tua terra se denominará jamais: Assolada; mas chamar-te-ão: O meu prazer está nela (Hefizibá), e à tua terra: A casada (Beulá); porque o Senhor se agrada de ti, e a tua terra se casará. Isaías 62:3,4

Mesmo assim, sem qualquer respaldo bíblico, parece haver uma maioria no meio cristão que defenda que a igreja é a noiva de Cristo. Muitos artistas do meio gospel compuseram músicas segundo as quais a igreja é a noiva de Cristo, inclusive o hino da harpa número 250.

Talvez esse equívoco tenha sido originado por uma má interpretação do texto trazido por Paulo na Carta aos Efésios e a seguir transcrito:

“Mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, como ao Senhor, pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador. Assim como a igreja está sujeita a Cristo, também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos. Maridos, ame cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável. Da mesma forma, os maridos devem amar cada um a sua mulher como a seu próprio corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo.” Efésios 5:22-28

O texto não está dizendo que a igreja é a noiva de Cristo, mas apenas declarando que os maridos devem amar as suas esposas tal como Cristo amou a igreja, ao ponto de se entregar por ela, fazendo algumas comparações entre as duas relações e usando o amor de Cristo como parâmetro. Ir além disso é forçar uma interpretação fantasiosa que apenas contradiz as outras referências bíblicas que tratam o assunto de forma cristalina.

Portanto as virgens na parábola representam os congregados da igreja. Tal qual na parábola, pessoas com e sem o Espírito de Deus se reúnem regularmente num espaço congregacional como igreja e aguardam a vinda do Senhor Jesus. Quando Ele vier, fará a separação do joio e do trigo.

Seria muito estranho o Senhor Jesus Cristo ter como noiva o seu próprio corpo (1 Coríntios 12:27) ou aqueles a quem Ele chama de convidados na própria festa de casamento (Marcos 2:18-20), amigos (João 15:14), irmãos, irmãs e mães (Marcos 3:35), servos (Mateus 25:23), filhos (Apocalipse 21:7), reis e sacerdotes (Apocalipse 5:10).

Levando em conta que o noivo é o próprio Senhor Jesus Cristo, que a noiva é a santa Jerusalém (Apocalipse 21:9-12) e que as dez virgens da parábola referem-se à igreja de Cristo (convidadas para a festa), identificarei a seguir os demais personagens mencionados na parábola, sendo eles os seguintes: Azeite, Vendedores de azeite e Alguém que grita.

O Azeite: O combustível para a lâmpada de barro, responsável por produzir a chama que aquece o portador e ilumina a si próprio e o caminho. Remete ao próprio Espírito de Deus, que habita igualmente em vasos de barro (nós), aquece (Ap 3:15) e nos mantém no caminho, mesmo na escuridão do mundo.

Conforme a parábola, a falta do azeite nas lâmpadas das virgens insensatas as tornou irreconhecíveis pelo noivo, pois ele não conseguia enxergar o rosto delas na escuridão da noite. Da mesma forma, todos aqueles que não tiverem o Espírito Santo habitando em suas vidas na ocasião da volta do Senhor Jesus Cristo não serão por Ele reconhecidos.

“E agora, filhinhos, permanecei nele; para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança, e não sejamos confundidos por ele na sua vinda.” 1 João 2:28

O fato de as virgens não cederem do próprio azeite às imprudentes remete a nossa impossibilidade de cedermos um pouco do Espírito que habita em nós para uma outra pessoa.

Os Vendedores do azeite: Por eliminação, não se referem a Deus, pois a salvação e os dons são gratuitos, mediante a fé no Senhor Jesus Cristo. Não podem ser os anjos, pois atuam como mensageiros cumpridores das ordens de Deus. Não podem ser demônios (stricto sensu) e nem qualquer outro tipo de ser oriundo do mundo espiritual, pois não podem realizar operações típicas de comércio. Não se tratam de cristãos, afinal estes já haviam sido representados pelas virgens. Também não se referem aos incrédulos e adeptos de outras crenças, pois estes não se envolvem com a nossa fé.

Assim, restaram apenas os mercadores da fé (mercenários). Essas pessoas não podem ser consideradas cristãs, pois enxergam o meio cristão apenas como um mercado a ser explorado e altamente lucrativo. Prova disso é que os mercadores da fé não pregam sobre arrependimento e sobre a volta do Senhor Jesus, afinal esse tipo de mensagem não gera lucro.

É importante lembrar que a parábola das dez virgens remete para o tempo do fim e que, em nossos dias, até mesmo canetas “ungidas” para passar em concurso têm sido comercializadas, além de travesseiros, pás de pedreiro, vassouras e uma série de outros produtos “ungidos” para diferentes finalidades. Não vai demorar e logo estarão vendendo o perdão e a salvação, repetindo a prática das vendas de indulgências realizadas pela Igreja Católica no passado, isto é, venda do perdão dos pecados já cometidos e os futuros.

Os mercadores da fé existem porque há gente disposta a pagar pelos dons de Deus e até mesmo pelo próprio Espírito Santo. Se isso aconteceu no período inicial da igreja, por que não nos tempos finais? Observe:

“Vendo Simão que o Espírito era dado com a imposição das mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro e disse: “Deem-me também este poder, para que a pessoa sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo”. Pedro respondeu: “Pereça com você o seu dinheiro! Você pensa que pode comprar o dom de Deus com dinheiro? Você não tem parte nem direito algum neste ministério, porque o seu coração não é reto diante de Deus. Arrependa-se dessa maldade e ore ao Senhor. Talvez ele perdoe tal pensamento do seu coração. (Atos 8:18-22).

Alguém que grita: como as dez virgens estavam dormindo, incluindo as prudentes, essa pessoa não pode ser algum cristão pregando na “última hora”.

Também não pode ser algum descrente ou seguidor de qualquer uma das inúmeras religiões pagãs existentes no mundo, pois essas pessoas sequer estão aguardando a volta do Senhor Jesus.

Esse grito que desperta as virgens para a festa do encontro do noivo com a noiva, e que sabe muito bem quem é o noivo, só poderia ter sido dado por algum ser celestial fazendo uso da trombeta de Deus:

Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.” 1 Coríntios 15:51,52

Ao contrário do que muitos dizem por aí, a igreja não é a noiva de Cristo, mas tão somente foi convidada para essa grande festa. Isso já é muito, afinal fomos apenas enxertados na oliveira (Romanos 11:11-24).

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