A história de Jó é uma das mais conhecidas da Bíblia Sagrada. O livro de Jó retrata o sofrimento do justo e nos ensina sobre a necessidade de nos mantermos fiéis a Deus, mesmo quando passamos por momentos mais difíceis.
O livro de Jó também nos trás informações valiosas sobre o mundo espiritual e sua influência sobre os eventos que acontecem no mundo.
Logo no primeiro capítulo, o livro registra um diálogo entre Deus e Satanás. Durante o diálogo, o inimigo afronta Deus e o desafia afirmando que Jó só o adora e o teme pelo fato de ter recebido do Eterno muitas riquezas materiais e de levar uma vida sossegada.
O resultado da conversa é que o diabo é autorizado a tocar nos bens, na família e depois na própria saúde de Jó.
Mas por que Deus permitiria isso?
Deus não poderia simplesmente ignorar o tentador, pois o silêncio de Deus significaria um reconhecimento de que Satanás estava certo, ou seja, de que o homem só teme a Deus se Deus o abençoar primeiro.
Repreender ou destruir Satanás naquele momento implicaria no mesmo problema.
Portanto não havia outra saída, a não ser permitir que o adversário pusesse em prática o seu plano contra Jó. Com isso, Deus demonstrou publicamente (no mundo espiritual e entre os homens) que o inimigo errou em sua tese, pois o resultado de toda a aflição pela qual passou Jó foi a sua fidelidade a Deus. Como prêmio, Jó recebeu em dobro tudo quanto tinha antes, além de ter tido também seus anos de vida aumentados.
Mas o objetivo nesse estudo é entender a fala de um dos servos de Jó, que disse:
“Estando este ainda falando, veio outro e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os servos, e os consumiu, e só eu escapei para trazer-te a nova.” (Jó 1:16-16)
É curioso esse homem ter dito “Fogo de Deus caiu do céu”, pois segundo a conversa entre Deus e Satanás, este último é que sairia da presença de Deus para executar um grande mal na vida de Jó.
Sem saber o que acontecia no mundo espiritual, Jó também atribui a Deus o mal que recebera:
“Porém ele lhe disse: Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios.” (Jó 2:10-10)
Com isso, deveríamos crer que o responsável pela destruição das ovelhas e dos servos foi Deus? Teria Deus ajudado Satanás em algum momento?
Certamente não. Todo o desenrolar da história nos mostra que Jó e seu servo não sabem da conversa entre Deus e Satanás. Se Jó soubesse, Deus não poderia provar coisa alguma com a fidelidade de Jó. Quanto ao servo, este homem é somente uma testemunha ocular que havia escapado de um cenário de caos. Diante da grandeza do fenômeno que acabara de presenciar, o servo atribuiu a Deus a sua execução.
A Bíblia Sagrada é, sem dúvida alguma, inspirada por Deus. Porém isso não significa que todas as falas de todos os personagens foram inspiradas por Deus. É o caso do servo de Jó; da pitonisa a quem Saul consultou; dos amigos do rei Roboão, filho de Salomão; dos falsos profetas que disputaram com Jeremias, dentre outros muitos casos. Observe:
“Porque eles vos profetizam falsamente em meu nome; não os enviei, diz o Senhor.” (Jeremias 29:9)
Ao analisar um texto bíblico, é importante verificar todo o contexto, quem está falando, para quem, quando, onde, como. Para se ter uma ideia da importância disso, é interessante observar que a pitonisa que enganou Saul continua, até hoje, enganando muitas pessoas que utilizam esse texto da Bíblia para justificar a prática de consulta aos mortos.
O fato de o servo de Jó ter dito que o fogo era de Deus não prova que o fogo seja realmente de Deus. Consultando a Palavra de Deus, verificamos que Deus não é o único que pode fazer o fogo cair do céu:
“E vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como o dragão. E exerce todo o poder da primeira besta na sua presença, e faz que a terra e os que nela habitam adorem a primeira besta, cuja chaga mortal fora curada. E faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à terra, à vista dos homens.” (Apocalipse 13:11-13)
Ainda de acordo com Apocalipse, os servos de Satanás, os demônios, são capazes de fazer milagres e de enganar a muitos com as suas manifestações (Apocalipse 16:14).
Além do fato de o inimigo ter algum poder para operar maravilhas, o que o capacitaria para fazer fogo cair do céu, pesa ainda contra a tese de que Deus lançou o fogo o fato de Deus ser justo.
Deus ensina, em sua Palavra, o princípio da lei da semeadura, segundo o qual o homem colherá o que plantar. A Palavra nos diz que Deus age de maneira justa, retribuindo a cada um segundo a sua obra (Deuteronômio 30:16-18, Mateus 16:27, Romanos 2:6-10, Apocalipse 22:12).
No caso de Jó, que era justo, Deus apenas permitiu, por causa das razões já apresentadas no início desse estudo, que o inimigo executasse o mal contra Jó, não havendo participação de Deus nos trágicos eventos que sucederam.
É claro que Deus pode castigar o homem fazendo-o adoecer, porém isso acontece quando o homem dá ocasião agindo de maneira má, como veremos na referência a seguir. É imperioso mencionar, no entanto, que nem toda enfermidade é oriunda da prática do pecado, podendo ocorrer também por razões naturais, devido à genética, ao envelhecimento do corpo ou ao estilo de vida que levamos.
“Tenho, porém, contra ti que toleras a mulher Jezabel, que se chama a si mesma profetiza; ela ensina e seduz os meus servos a fornicar e a comer das carnes sacrificadas aos ídolos. Eu lhe dei tempo para que se arrependesse, e ela não quer arrepender-se da sua fornicação. Eis aí a lanço num leito, e numa grande tribulação os que adulteram com ela, se não se arrependerem dos atos ensinados por ela.” (Apocalipse 2:20-22)
Observe que o “mal” enviado da parte de Deus é, na verdade, a correção que o Eterno aplica sobre o homem injusto e mau, visando ao arrependimento do pecador. Não se trata de “mal”, mas de justiça.
Perceba ainda que Deus não aplica sua justiça imediatamente, pois oferece ao homem um tempo para o arrependimento, porque não tem prazer na destruição da obra de suas mãos.
A conclusão coerente a que se chega é que o fogo que queimou as ovelhas e os servos não foi enviado por Deus, porque Deus não trabalha em parceria com Satanás. Não existe comunhão entre a luz e as trevas (Mateus 4:10, 2 Coríntios 6:14).
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Comments
Fortaleceu meu intendimento,pois antes de acompanhar esse estudo já tinha em mente e no coração essa interpretação,gostei demais um ótimo amanhecer!
Só acho estranho o fato de Satanás ter poder sobre a natureza nesse caso de Jó.
Posso estar errada, mas eu acredito que Deus pode sim ter descido fogo do céu para queimar as ovelhas e os servos que servia. Porque Deus disse a satanás toca em tudo que é de jó, “mas quando seus filhos festejam logo após os banquetes jó fazia olocasto segundo o número de todos os filhos, porque dizia jó; porventura, pecaram meus filhos e brasfemaram de Deus no seu coração. Assim o fazia jó continuuamente. Jó 1:5. Acredito que as ovelhas pertencia a Deus Porque apesar da bíblia não dizer com qual animal jó fazia olocasto poderia ser com as ovelhas. Se ele criava somente para sacrificar ao Senhor pertencia à Deus. Erao que mantinha a ligação entre ele e Deus. O diabo toca com a permissão de Deus em tudo que é nosso. Mas , nem tudo que eu e você tem pertence a Deus. Ele apenas nos emprestou. Tudo que nos liga a adoração, o desejo de louvar, orar, jejuar, santificar e sacrificar vem de Deus. Acredito que antes que o diabo tocasse Deus tirou para sim.
Lembando posso está errada é apenas minha interpretação.
O que penso e creio é que existe dentro da vontade de Deus a permissiva, e o diabo só tocou devido a permissão, uma vez que a bíblia diz que o inimigo não lhe toca, se tocar é permissão porque o diabo pediu para Jesus para tocar em Pedro, Jesus não permitiu. Em Apocalipse 13:13 nos diz algo assim. E para nós tudo que vem de cima parece ser de Deus mas não é, o inimigo é perito em enganar.