Libertação e pós-libertação

Quando um eleito de Deus é por ele chamado, algo novo acontece. Na Bíblia, vemos vários exemplos de pessoas que, depois de se depararem com o Cristo, mudaram radicalmente a forma de viver, como o caso do endemoniado gadareno (Marcos 5) e de Zaqueu (Lucas 19).

Essa mudança radical e repentina de conduta é o resultado da ação libertadora de Deus, a qual promove arrependimento (João 16:8) imediato em relação às práticas pecaminosas mais evidentes e destruidoras. Contudo, a pessoa alvo dessa ação libertadora ainda passará por inúmeros aprendizados e outros processos de libertação e aperfeiçoamento (1 Pedro 5:10, Filipenses 1:6, Efésios 4:11-13), alcançando com o decorrer do tempo mais maturidade espiritual e um nível cada vez mais elevado de comunhão com Deus, de tal forma que nem mesmo a ameaça de morte poderá afastá-lo do amor de Cristo (Romanos 8:36-39), embora ainda pecador.

Acerca do assunto, podemos aprender observando a vida dos primeiros e mais próximos discípulos de Cristo. Todos aqueles homens, depois de terem sido chamados pelo Senhor Jesus, passaram a seguir o Mestre aonde quer que Ele fosse. Eles presenciaram milagres, aprenderam e conviveram com o Senhor por aproximadamente três anos. Depois de tudo, Judas o traiu e o entregou para ser condenado. No momento da prisão de Cristo, todos os discípulos que estavam com Ele fugiram com medo. Um pouco mais tarde, Pedro o negou.

A traição de Judas é compreensível pelo fato de este homem ter recebido esse destino, a fim de que as Escrituras se cumprissem (João 17:12, Zacarias 11:12). Porém no caso dos demais, como compreender o abandono generalizado e até a negação da fé, se eles haviam sido escolhidos pelo próprio Senhor Jesus?

Além de haver profecia a ser cumprida (Zacarias 13:7), segundo a qual o Pastor seria abandonado pelas ovelhas, os discípulos de Cristo, apesar de terem vivido uma experiência de libertação na presença do próprio Salvador, ainda não eram convertidos. Esse testemunho quem dá é o próprio Senhor Jesus:

“E o Senhor disse: Simão, Simão, eis que Satanás tem desejado te ter, para vos peneirar como trigo; mas eu orei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, fortaleça teus irmãos.” (Lucas 22: 31-32, BKJ 1611).

Mais tarde, agora sim convertido, mesmo diante da morte, Pedro mantém firme a sua fé e é morto em razão do testemunho de Jesus. Da mesma forma os demais discípulos, os quais, segundo a tradição e história, foram mortos também em razão de sua fé no Senhor Jesus.

Sem dúvida alguma, a libertação (João 8:36) e o consequente aperfeiçoamento (1 Pedro 5:10, Filipenses 1:6, Efésios 4:11-13) são obras que somente Deus pode realizar em nossas vidas.

Porém encontramos nas Escrituras Sagradas diversas instruções atribuindo para nós responsabilidades que não podem ser negligenciadas, as quais nós devemos observá-las, sempre na dependência de Deus e com humildade. Dentre as responsabilidades, destacam-se a prática da oração, da leitura da Palavra de Deus, vigilância, jejum e adoração.

Deus realiza a libertação e o aperfeiçoamento em nossas vidas, mas isso de maneira alguma nos desonera da missão de carregar a nossa própria cruz, de impor à nossa carne as renúncias necessárias e de cumprir o nosso papel no “pós-libertação”, a fim de alcançarmos mais precocemente o amadurecimento espiritual que o Espírito de Deus quer trazer para nossas vidas (Filipenses 3:15).

Embora o nosso espírito esteja pronto, no entanto nossa carne nunca estará, pois nela não habita bem algum (Romanos 7:18). Para vencer diariamente, é preciso se sujeitar a Deus, resistir ao diabo, a fim de que ele fuja de nós (Tiago 4:7).

Não foi por acaso que o Senhor Jesus Cristo disse: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mateus 26:41)

Qualquer pessoa que tenha sido liberta por Deus conhece quais são os seus pontos fracos e fortes. Mesmo libertos, nossa carne ainda permanecerá fraca. Por isso, nós devemos fortalecer o espírito com a já mencionada rotina de vigilância, oração, leitura da Palavra, jejum e adoração.

Devemos nos abster de toda a aparência do mal (1 Tessalonicenses 5:22), e não desafiá-la, tentando demonstrar uma força que a carne não tem.

Para não sucumbir às concupiscências da carne, após uma série de ataques combinados do inimigo, não podemos nos eximir das nossas responsabilidades, mas sim assumir verdadeiramente uma postura de cidadão do céu (Filipenses 3:20), sem deixar de lado a armadura de Deus (Efésios 6-10:18).

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