O livro do profeta Ageu contém uma passagem bastante conhecida, porém pouco compreendida. Quem nunca ouviu a mensagem sobre a glória da segunda casa ser maior do que a da primeira?
Porém ao examinarmos as Escrituras com mais atenção, percebemos que o profeta Ageu, na verdade, não está se referindo a glória da segunda casa, mas sim a da última casa e nós vamos ver o porquê disso logo após uma breve consideração inicial.
O título do Capítulo 2 do profeta Ageu apresenta o seguinte texto “A glória do segundo Templo”. Porém isso não significa que esse título esteja correto ou que ele seja inspirado por Deus.
A Bíblia foi dividida em capítulos apenas no século XIII e somente depois de três séculos, dividida em versículos. A divisão em capítulos e versículos tem como objetivo tornar a leitura do texto bíblico mais fácil, porém por se tratar de um trabalho técnico e essencialmente humano, está sujeito a erros.
Antes de continuar a leitura, recomendo que leia com muita atenção todo o texto do capítulo 2 do profeta Ageu, pois nem todo o capítulo será abordado aqui, mas apenas as referências mais importantes.
No versículo 3 do capítulo, Ageu compara a situação daquele Templo, o qual havia sido reconstruído por Zorobabel, com a do primeiro, e ele mesmo (Ageu) reconhece que a glória daquele segundo Templo em nada superava a glória do antigo, construído por Salomão.
Nos versículos 4 e 5, Ageu diz que o Senhor ainda é com aquele povo e que eles não deveriam ter medo, explicando a razão disso no versículo seguinte.
No versículo 6, Ageu traz uma profecia que não se realizaria naquele período, mas no período da primeira vinda de Jesus Cristo e isso fica ainda mais evidente com a importante revelação contida no texto acerca de dois terremotos:
“Porque assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda uma vez, daqui a pouco, farei tremer os céus e a terra, o mar e a terra seca;” (Ageu 2:6)
O que o profeta quis dizer com isso? Basta olhar para os eventos relacionados a Jesus Cristo. No momento em que o SENHOR entregou o espírito na cruz, a terra tremeu (ainda uma vez), conforme Mateus 27:51. Depois de três dias, ao ressuscitar, a terra tremeu novamente (daqui a pouco), conforme Mateus 28:2. Perceba que esses terremotos foram especiais, capazes de abalar até mesmo os céus e terra, o mar e a terra seca!
Do versículo 6 para o versículo 7, existe um intervalo de tempo gigantesco que corresponde ao período de tempo entre a primeira vinda de Cristo e a sua última vinda! Na segunda vinda de Cristo, quando virá para reinar sobre os povos, Ele não será mais desprezado e rejeitado, mas virá como o Desejado das nações, e por causa disso:
“(…) encherei esta casa de glória, diz o Senhor dos Exércitos. Minha é a prata, e meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos. A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o Senhor dos Exércitos, e neste lugar darei a paz, diz o Senhor dos Exércitos” (Ageu 2:7-9)
A glória da última casa será maior que a da primeira porque o próprio Senhor Jesus Cristo entrará nela para reinar, como Desejado das nações! Isso está em perfeita harmonia com o seguinte texto:
“E eis que a glória do Deus de Israel vinha do caminho do oriente; e a sua voz era como a voz de muitas águas, e a terra resplandeceu por causa da sua glória. E o aspecto da visão que tive era como o da visão que eu tivera quando vim destruir a cidade; e eram as visões como as que tive junto ao rio Quebar; e caí sobre o meu rosto. E a glória do Senhor entrou na casa pelo caminho da porta, cuja face está para o lado do oriente. E levantou-me o Espírito, e me levou ao átrio interior; e eis que a glória do SENHOR encheu a casa.” (Ezequiel 43:2-5)
Quando Jesus estiver naquela casa, Ele dirá:
“este é o lugar do meu trono, e o lugar das plantas dos meus pés, onde habitarei no meio dos filhos de Israel para sempre; e os da casa de Israel não contaminarão mais o meu nome santo, nem eles nem os seus reis, com suas prostituições e com os cadáveres dos seus reis, nos seus altos” (Ezequiel 43:6)
Isso não é maravilhoso?
Perceba ainda que Ageu não fala da glória de uma segunda, mas “desta última casa”, e diz ainda que naquele lugar o Senhor dos Exércitos dará a paz. Se crermos que o profeta tenha se referido à glória da última casa, e não da segunda, isso realmente fará sentido, pois apenas o Senhor Jesus Cristo acabará com todas as guerras do mundo, fazendo com que os homens convertam as “espadas” em “enxadas” e suas “lanças” em “foices” e não aprendam mais a guerrear!
“E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa do Senhor no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros; e concorrerão a ele todas as nações. E irão muitos povos, e dirão: Vinde, subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor. E ele julgará entre as nações, e repreenderá a muitos povos; e estes converterão as suas espadas em enxadões e as suas lanças em foices; uma nação não levantará espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerrear.” (Isaías 2:2-4)
Todos nós sabemos que a construção do segundo Templo por Zorobabel não trouxe paz definitiva àquele povo porque o próprio Templo fora destruído, juntamente com a cidade de Jerusalém. Portanto é errado acreditar e dizer que “a glória do segundo Templo será maior do que a do primeiro”, porque realmente não foi maior e porque não houve paz naquele lugar devido à construção do segundo Templo.
Quanto ao ouro e a prata pertencerem a Deus, podemos observar o exato cumprimento disso em Zacarias 14:14. Esse capítulo inteiro fala sobre a segunda vinda de Jesus, mais precisamente no monte das Oliveiras (Zacarias 14:4), o lugar de onde Ele foi elevado às alturas (Atos 1:9-12), sobre a vitória contra as nações que guerrearam contra Jerusalém e o castigo que lhes será aplicado, sobre o estabelecimento do seu reinado e da paz definitiva, dentre outros assuntos.
Jesus realmente virá, destruirá o anticristo, que estará assentado no Templo em Jerusalém (o qual ainda será reconstruído), querendo ser chamado de Deus (2 Tessalonicenses 2:4), e depois encherá aquela Casa de sua Glória, conforme as profecias já citadas!
Voltando ao capítulo 2 de Ageu, agora em sua parte final, entre os versículos 20 e 23, vamos encontrar mais informações sobre o tremor dos céus e terra, como se Deus quisesse lembrar o que fora dito antes, e depois sobre os eventos finais, quando o trono e a força dos reinos dos gentios serão destruídos, algo que não aconteceu no tempo de Zorobabel (domínio persa) e mesmo até hoje (domínio plurilateral), mas que ocorrerá somente na ocasião da segunda vinda do SENHOR. Vejamos as referências:
“E veio a palavra do Senhor segunda vez a Ageu, aos vinte e quatro dias do mês, dizendo: Fala a Zorobabel, governador de Judá, dizendo: Farei tremer os céus e a terra; E transtornarei o trono dos reinos, e destruirei a força dos reinos dos gentios; e transtornarei os carros e os que neles andam; e os cavalos e os seus cavaleiros cairão, cada um pela espada do seu irmão. Naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, tomar-te-ei, ó Zorobabel, servo meu, filho de Sealtiel, diz o Senhor, e far-te-ei como um anel de selar; porque te escolhi, diz o Senhor dos Exércitos.” (Ageu 2:20-23)
O reinado dos gentios será substituído pelo reinado de Cristo, e isso está em sintonia com o sonho que Nabucodonosor teve acerca dos reinos que prevaleceriam sobre o mundo, representados em uma estátua (Daniel 2). A pedra que é lançada e atinge os pés da imagem, que a esmiúça por inteiro, representa a vinda de Cristo e o estabelecimento de seu reinado:
“Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre” (Daniel 2:44)
Naquele dia, ao que parece o dia em que o SENHOR aparecerá ao mundo novamente, Zorobabel será como um “anel de selar” (Ageu 2:23). A Palavra de Deus promete ressurreição aos que esperam em Cristo, mas na ocasião da vinda do SENHOR, Zorobabel será como um anel de selar, ou seja, virá com a autoridade de um rei, uma vez que o anel de selar era utilizado por reis para assinar documentos oficiais.
A fácil conclusão a que podemos chegar é que o título do capítulo 2 de Ageu está mesmo incorreto. Compartilhemos esse conhecimento com os irmãos e glorifiquemos a Deus por nos conceder tamanho privilégio de conhecer um pouquinho mais sobre a sua maravilhosa Palavra.
Glória a Deus!