A entrada triunfal de Jesus e seus significados proféticos

O relato da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém é carregado de simbolismo e cumpre profecias do Antigo Testamento. Esse episódio, narrado em Mateus 21:1-14 e confirmado por outros evangelistas, revela verdades profundas sobre a identidade do Messias, sua missão e a resposta do povo.
A seguir, vamos responder a cinco perguntas essenciais para compreender melhor esse acontecimento.

Texto base:

Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé, ao monte das Oliveiras, enviou Jesus dois discípulos, dizendo-lhes: Ide à aldeia que aí está diante de vós e logo achareis presa uma jumenta e, com ela, um jumentinho. Desprendei-a e trazei-mos. E, se alguém vos disser alguma coisa, respondei-lhe que o Senhor precisa deles. E logo os enviará. Ora, isto aconteceu para se cumprir o que foi dito por intermédio do profeta: Dizei à filha de Sião: Eis aí te vem o teu Rei, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de animal de carga. Indo os discípulos e tendo feito como Jesus lhes ordenara, trouxeram a jumenta e o jumentinho. Então, puseram em cima deles as suas vestes, e sobre elas Jesus montou. E a maior parte da multidão estendeu as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos de árvores, espalhando-os pela estrada. E as multidões, tanto as que o precediam como as que o seguiam, clamavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas! E, entrando ele em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou, e perguntavam: Quem é este? E as multidões clamavam: Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia! Tendo Jesus entrado no templo, expulsou todos os que ali vendiam e compravam; também derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a transformais em covil de salteadores. E foram ter com ele no templo cegos e coxos, e curou-os.” Mateus 21:1-14

1. Por que Jesus veio montado em uma jumenta e um jumentinho?

Conforme o texto base em Mateus 21:4-5, isso aconteceu para cumprir a profecia de Zacarias 9:9:

“Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu rei virá a ti, justo e Salvador, pobre, e montado sobre um jumento, e sobre um jumentinho, filho de jumenta.” Zacarias 9:9

Mas isso não explica tudo.

Na cultura antiga, reis montavam cavalos quando iam à guerra, mas, em missões de paz, usavam jumentos, que são símbolo de simplicidade, humildade e serviço.

Assim, Jesus se apresentou como o Rei que veio trazer paz e reconciliação entre Deus e os homens, não como um líder militar contra Roma.

Apocalipse 19:11-16 descreve que, em sua segunda vinda, Ele virá montado em um cavalo branco, pronto para julgar e guerrear. Na primeira vinda, porém, escolheu a jumenta para revelar sua missão pacífica.

Com isso, também concluímos que devemos adotar uma postura de humildade, seguindo o exemplo do Mestre e dos animais por Ele escolhidos.

Ao escolher um jumento para servir, no qual não há aparência de glória, Deus está dizendo que quem deve aparecer é o Unigênito, e não nós. A Deus, portanto toda a honra e glória!

2. Por que havia uma multidão em Jerusalém?

Segundo o texto de abertura, Jesus estava sendo acompanhado por uma multidão, alguns adiante e outros na retaguarda.

Porém, o texto também fala que toda a cidade ficou alvoroçada ao ver Jesus entrando em Jerusalém. O que essa outra multidão fazia ali perto do Portão Oriental e do Templo?

A resposta quem nos dá é João:

“No dia seguinte, a numerosa multidão que viera à festa, tendo ouvido que Jesus estava de caminho para Jerusalém, tomou ramos de palmeiras e saiu ao seu encontro, clamando: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor e que é Rei de Israel!” (João 12:12,13)

A numerosa multidão estava ali inicialmente por causa da festa da Páscoa, que é celebrada a partir do dia 10 do mês de Nisan (o primeiro mês em Israel), segundo a ordem de Deus em Êxodo 12:1-3.

“Disse o Senhor a Moisés e a Arão na terra do Egito: Este mês vos será o principal dos meses; será o primeiro mês do ano. Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês, cada um tomará para si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família.” (Êxodo 12:1-3)

Inicialmente cada família celebrava a Páscoa na sua própria cidade, porém com a centralização do culto no Templo, a Páscoa passou a ser celebrada apenas nele:

“Não poderás sacrificar a Páscoa em nenhuma das tuas cidades que te dá o Senhor, teu Deus, ⁶ senão no lugar que o Senhor, teu Deus, escolher para fazer habitar o seu nome, ali sacrificarás a Páscoa à tarde, ao pôr do sol, ao tempo em que saíste do Egito.” (Deuteronômio 16:5-6)

É por isso que Jerusalém estava cheia de pessoas de Israel.

O texto nos mostra que a presença física em eventos religiosos não garante conexão verdadeira com Cristo, sendo o caso de muitos daquela multidão, que mais tarde escolheriam um homem chamado Barrabás, assaltante, assassino, mas também um símbolo de resistência contra a dominação romana, atraindo a simpatia da multidão.

3. Por que ramos de palmeiras e gritos de Hosanas ao Filho de Davi?

Os ramos de palmeira são símbolo de vitória, realeza e libertação e aparecem na Bíblia em ocasiões especiais, como em Apocalipse 7:9:

“Depois disso, olhei, e eis que diante de mim havia uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé, diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas e folhas de palmeira nas mãos.” Apocalipse 7:9

Tratam-se, portanto, de um elemento de glorificação.

O termo “Hosana”, do hebraico הוֹשִׁיעָה נָּא” (Hôshî‘âh nā’), significa “Salva-nos, por favor!” ou “Salva-nos agora!”. Trata-se de um clamor messiânico por socorro urgente.

Ao dizer Filho de Davi, a multidão reconhecia que Jesus era proveniente da tribo de Judá e o Messias aguardado, algo que durou somente até o momento de Jesus começar a falar sobre a sua morte, como podemos ver no texto a seguir:

Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se um grão de trigo não for jogado na terra e não morrer, ele continuará a ser apenas um grão. Mas, se morrer, dará muito trigo. Quem ama a sua vida não terá a vida verdadeira; mas quem não se apega à sua vida, neste mundo, ganhará para sempre a vida verdadeira. Quem quiser me servir siga-me; e, onde eu estiver, ali também estará esse meu servo. E o meu Pai honrará todos os que me servem. Jesus continuou: — Agora estou sentindo uma grande aflição. O que é que vou dizer? Será que vou dizer: Pai, livra-me desta hora de sofrimento? Não! Pois foi para passar por esta hora que eu vim. Pai, revela a tua presença gloriosa! Então do céu veio uma voz, que dizia: — Eu já a revelei e a revelarei de novo. A multidão que estava ali ouviu a voz e dizia que era um trovão. Outros afirmavam que um anjo tinha falado com Jesus. Mas ele disse: — Não foi por minha causa que veio esta voz, mas por causa de vocês. Chegou a hora de este mundo ser julgado, e aquele que manda nele será expulso. E, quando eu for levantado da terra, atrairei todas as pessoas para mim. Ele dizia isso para indicar de que maneira ia morrer. A multidão perguntou: — A nossa Lei diz que o Messias vai viver para sempre. Como é que o senhor diz que o Filho do Homem precisa ser levantado da terra? Quem é esse Filho do Homem? Jesus respondeu: — A luz estará com vocês ainda um pouco mais. Vivam a sua vida enquanto vocês têm esta luz, para que a escuridão não caia de repente sobre vocês. Quem anda na escuridão não sabe para onde vai. Enquanto vocês têm a luz, creiam na luz para que possam viver na luz. Depois que Jesus disse isso, foi embora e se escondeu do povo. Eles tinham visto Jesus fazer todos esses milagres, mas não criam nele.” João 12:24-37

Isso aconteceu porque os judeus queriam um Messias bélico, que os livrasse do poder de Roma, mas Jesus estava oferecendo libertação do poder das trevas.

Disso, podemos aprender que:

  • Uma pessoa deve adorar a Deus, mesmo estando em situação adversa, ao ponto de clamar “Hosana!” (Salva-nos agora!).
  • Há momentos em que a situação é tão grave e tão urgente, que só dá tempo para um pedido de socorro desesperado: “Hosana!”. Mesmo com tão pouco, o Senhor é capaz de interpretar o nosso sofrimento e intervir de uma forma cirúrgica e efetiva.
  • Nem todo o que diz Senhor será salvo, mas somente aqueles que fazem a vontade de Deus.
  • Muitas pessoas se aproximam de Jesus com falsas expectativas e acabam se frustrando e abandonando o Caminho por não serem atendidas. Por qual motivo nós estamos buscando a presença e a atenção de Jesus agora? É só para resolver problemas seculares, financeiros, relacionamento ou estamos buscando a Deus por quem Ele é, gratidão e desejo de adorá-lo voluntariamente, em espírito e em verdade?

4. Por que Jesus passou pelo Portão Oriental?

O Portão Oriental era o caminho natural para quem vinha de Betfagé, passando pelo Monte das Oliveiras. Mas não é só esse o motivo.

Na ocasião da festa da páscoa, no dia 10 de Nisan os habitantes de Israel deveriam levar os cordeiros para serem sacrificados no Templo em Jerusalém, passando pelo Portão das Ovelhas. Esse Portão é mencionado por João:

“Ali existe um tanque que tem cinco entradas e que fica perto do Portão das Ovelhas. Em hebraico esse tanque se chama Betezata’.” João 5:2

Porém o cordeiro simbólico nacional levado pelo sumo sacerdote (ou sacerdotes por ele escolhidos), segundo as tradições judaicas, era conduzido pelo Portão Oriental, o mesmo que Jesus utilizou para ter acesso ao Templo, porque Ele é Verbo encarnado e o Cordeiro de Deus!

Ao passar pela Porta, Jesus também estava cumprindo a antiga profecia de Ezequiel, que disse:

“Então me fez voltar para o caminho da porta exterior do santuário, que olha para o oriente, a qual estava fechada. E disse-me o Senhor: Esta porta permanecerá fechada, não se abrirá; ninguém entrará por ela, porque o Senhor, o Deus de Israel entrou por ela; por isso permanecerá fechada.” Ezequiel 44:1-2

A profecia acima foi cumprida por Solimão, sultão do Império Otomano, em cerca de 1541 d.C. Ao reconstruir as muralhas de Jerusalém, ele mandou selar a Porta Oriental com pedras, porque temia o cumprimento de uma profecia sobre a vinda do Messias e a perda do domínio sobre as terras de Israel. Tenho estudo sobre esse assunto no endereço https://www.evangelismo.blog.br/2017/11/25/a-porta-dourada-aguarda-o-verdadeiro-messias/

Assim ficou o Portão após o cumprimento da profecia de Ezequiel.

Depois de passar pelo Portão Oriental, Jesus se dirigiu ao Templo na sequência. Agora é o momento oportuno para responder a última questão:

5. Por que Jesus entrou no Templo e o visitou até ser crucificado?

No dia 10 do mês de Nisan, o sumo sacerdote (ou os sacerdotes por ele escolhidos) tinha que trazer o cordeiro para o Templo, onde deveria permanecer à vista de todos, a fim de que fosse examinado pelos próximos 4 dias até ser sacrificado no dia 14 de Nisan.

“E o guardareis até ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da congregação de Israel o sacrificará à tarde.” Êxodo 12:6

Normalmente esse cordeiro era trazido de Belém (Beith Lehen – Casa do Pão), a cidade de Jessé (1 Samuel 17:12) e Davi (Lucas 2:4) e também do nascimento do Senhor Jesus, por ser próxima de Jerusalém (aproximadamente 9 km) e por haver ali muitos criadores dedicados em servir o Templo com os animais para o sacrifício.

Você já deve ter notado e não se trata de coincidência.

Ao entrar no Templo depois de passar pela porta, Jesus, que é o Cordeiro de Deus, apenas seguiu o mesmo fluxo dos cordeiros simbólicos nacionais que foram sacrificados antes, que também entravam pela Porta Oriental e eram levados ao Templo, onde permaneciam até o momento do sacrifício.

Assim como os cordeiros pascais eram observados e examinados por quatro dias antes do sacrifício, Jesus também foi submetido, nesse mesmo período, ao escrutínio humano. Foi interrogado por líderes religiosos e julgado por diversas autoridades: Pilatos, que procurava soltá-lo; a esposa de Pilatos, que teve um sonho perturbador a seu respeito; Judas Iscariotes, que confessou ter traído sangue inocente; Herodes, que afirmou não encontrar nele motivo para condenação; e, por fim, até o centurião romano junto à cruz, que declarou: “Na verdade, este homem era justo.”

Da mesma forma que os cordeiros pascais eram sacrificados à tarde (Êxodo 12:6 e Levítico 23:5), expressão que no contexto rabínico do Segundo Templo referia-se ao período entre cerca de 15h e o pôr do sol, os Evangelhos relatam que Jesus rendeu o espírito por volta da “hora nona” (Mateus 27:46,50; Marcos 15:34-37; Lucas 23:44-46), ou seja, aproximadamente às 15h, como estamos acostumados a contar.

O interesse de Jesus logo entrar no Templo reflete o interesse que Ele tem de habitar em nossas vidas, logo após ultrapassar a “porta” do nosso coração (Apocalipse 3:20), pois nós somos o atual Templo no qual Deus deseja habitar.

É bom lembrar que a primeira providência que Jesus tomou ao entrar no Templo foi arrumar a Casa expulsando os mercadores e dar cura aos cegos e coxos. Ao entrar no “Templo” de nossas vidas (Apocalipse 3:20), Jesus deseja purificá-lo, assim como fez com o Templo de Jerusalém, curando-nos da cegueira espiritual e nos dando poder para andar em sua presença.

A entrada triunfal não foi apenas um ato simbólico, mas o cumprimento perfeito das Escrituras, revelando Jesus como o Cordeiro de Deus, o Rei pacífico e o Messias prometido.

Ela nos chama a reconhecer quem Ele é de fato, não apenas conforme nossas expectativas, mas segundo a verdade revelada na Palavra.

Glória a Deus pelo resgate por meio de Jesus Cristo!

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