A fé do grão de mostarda

Antes de partir para o comentário a respeito da fé do grão de mostarda, recomendo que leia todo o texto associado a esse enigma do Senhor Jesus, a fim de compreender melhor todo o pano de fundo do evento.

A cura de um menino

¹⁴ Quando eles chegaram perto da multidão, um homem foi até perto de Jesus, ajoelhou-se diante dele ¹⁵ e disse:
— Senhor, tenha pena do meu filho! Ele é epilético e tem ataques tão fortes, que muitas vezes cai no fogo ou na água. ¹⁶ Eu o trouxe para os seus discípulos a fim de que eles o curassem, mas eles não conseguiram.
¹⁷ Jesus respondeu:
— Gente má e sem fé! Até quando ficarei com vocês? Até quando terei de aguentá-los? Tragam o menino aqui!
¹⁸ Então deu uma ordem, o demônio saiu, e no mesmo instante o menino ficou curado. ¹⁹ Depois os discípulos chegaram perto de Jesus, em particular, e perguntaram:
— Por que foi que nós não pudemos expulsar aquele demônio?
²⁰ Jesus respondeu:
— Foi porque vocês não têm bastante fé. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se vocês tivessem fé, mesmo que fosse do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam dizer a este monte: “Saia daqui e vá para lá”, e ele iria. E vocês teriam poder para fazer qualquer coisa! ²¹ [Mas esse tipo de demônio só pode ser expulso com oração e jejum.] Mateus 17:14-21
NTLH

Um primeiro ponto de atenção está na atuação irregular dos discípulos. O leitor atento deve ter notado que o homem necessitado se dirigiu inicialmente aos discípulos, os quais fracassaram na missão de curar o filho dele. Depois de um intervalo não determinado, o homem se dirige sozinho e diretamente ao Senhor Jesus, para clamar por socorro, dizendo que os discípulos nada puderam fazer.

A resposta dura de Jesus “Gente má e sem fé! Até quando ficarei com vocês? Até quando terei de aguentá-los? Tragam o menino aqui!” pode ter sido dirigida aos discípulos que, diante do fracasso, não conduziram o necessitado à presença do Mestre, abandonando-o sem uma solução definitiva.

Isso pode servir de alerta para nós, caso decidamos enterrar algum dom e guardar a presença do Senhor Jesus apenas para nós, algo que aparentemente os discípulos fizeram naquela ocasião.

Diante do fracasso ao tentarem expulsar um único demônio, os discípulos perguntaram o motivo a Jesus, que respondeu utilizando o exemplo da fé do grão de mostarda.

Para compreender adequadamente a parábola do grão de mostarda, é necessário entender o cenário onde Jesus estava inserido, quando ele proferiu essas palavras.

Segundo os textos circundantes, Jesus estava na região da Galileia, ao Norte de Israel, provavelmente próximo de Cafarnaum, em uma área de cultivo fora dos termos da cidade, perto do Mar da Galileia, o maior lago de água doce de Israel, cuja superfície das águas está a impressionantes 213 metros abaixo do nível do mar Mediterrâneo. Para fins de comparação, o Mar Morto (salgado), na região da Judeia, está a 430 metros abaixo do nível do mar (ver mapa abaixo).

Ao observar a paisagem, Jesus podia ver o solo formado por rochas vulcânicas, especialmente o basalto. Para lavrar a terra, os agricultores eram obrigados a retirar essas pedras da superfície, liberando o solo fértil abaixo delas para o cultivo. Evidentemente, este não era um trabalho fácil.

As rochas removidas poderiam servir como cercas para marcar divisas ou simplesmente ser ajuntadas em pequenos “montes” espalhados pela propriedade, mais ou menos como mostrado nas imagens a seguir.

Jesus, o grande Mestre, usava os recursos didáticos ao seu alcance para ensinar os mistérios do Reino de Deus, às vezes falando sobre o pastor e suas ovelhas, os lírios do campo e as aves do céu, a galinha e seus pintinhos, o mosquito e o camelo e, entre outros, o grão de mostarda que seria capaz de mover um monte de seu lugar.

Ao mencionar o monte, Jesus estava se referindo a estes pequenos amontoados de rochas, que não conseguiram acabar com a determinação do grão de mostarda que caiu entre elas.

Essa comparação é válida, pois o pequeno grão de mostarda tem a capacidade de germinar no solo fértil da Galileia, lançar raízes profundas e crescer em direção à luz, enquanto sacia sua sede com a umidade retida sob as rochas. Seu caule, inicialmente fino, vai se fortalecendo com o tempo, até tornar-se uma árvore frondosa, capaz de mover as pedras ao seu redor — uma tarefa que, à primeira vista, pareceria impossível para uma semente tão pequena.

Tal como o solo fértil abaixo do grão, assim deve ser o nosso coração, uma terra fértil para a semente da Palavra de Deus. As raízes descendo profundamente indicam como deve ser o nosso nível de relacionamento e comprometimento com Deus. Assim como o caule é atraído pela luz em meio aos obstáculos, Jesus se apresenta para nós como a Luz do mundo, aquele que nos guia até mesmo nas tempestades da vida. As reservas de água e umidade escondidas abaixo das rochas remetem à presença do Espírito de Deus em nós, que sustenta, fortalece e nos impulsiona a seguir em frente.

Com todos esses elementos reunidos, nós venceremos os obstáculos da vida, da mesma forma que o grão de mostarda vence o monte!

A parábola da mostarda nos ensina também a manifestar uma fé persistente e determinada, mesmo diante dos desafios aparentemente maiores e mais duros do que nós. Mesmo nas situações mais complexas, nós devemos continuar avançando e confiando pacientemente, afinal não é da noite para o dia que a mostardeira vence o monte.

A persistência refere-se à capacidade de continuar tentando, de não desistir, mesmo diante de dificuldades e até fracassos. Já a determinação envolve a firmeza de propósito, a decisão de alcançar um objetivo.

Esses atributos estavam presentes na vida da mulher que sofreu de hemorragia por doze anos. Mesmo diante das sucessivas frustrações, ela não perdeu a fé, enfrentou os obstáculos, ali representados pela multidão e o isolamento social forçado (ela era considerada impura) e obteve a cura ao tocar na veste do Senhor Jesus (Mateus 9:18-26).

Isso significa que a nossa fé não pode ser baseada na lógica, em dados ou probabilidades, mas deve ser firmada no Poder de Deus, persistente e determinada.

O motivo determinante para os discípulos não expulsarem os demônios nesse episódio foi a falta de fé, talvez por ter faltado determinação ou persistência, devido à associação com grão de mostarda.

Há ainda um outro exemplo de tentativa frustrada de expulsão de demônios na Bíblia, porém com um resultado bem mais desagradável. Observe:

“¹³ E alguns judeus, exorcistas ambulantes, tentaram invocar o nome do Senhor Jesus sobre possessos de espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega. ¹⁴ Os que faziam isto eram sete filhos de um judeu chamado Ceva, sumo sacerdote. ¹⁵ Mas o espírito maligno lhes respondeu: Conheço a Jesus e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois? ¹⁶ E o possesso do espírito maligno saltou sobre eles, subjugando a todos, e, de tal modo prevaleceu contra eles, que, desnudos e feridos, fugiram daquela casa.” Atos 19:13-16

Nesse episódio, aqueles homens acreditaram que o nome de Jesus possuía poder suficiente para expulsar demônios — tanto que se arriscaram publicamente, mesmo sendo judeus e filhos de um sumo sacerdote.

No entanto, não se tratava de uma fé aprovada, pois não eram verdadeiros discípulos de Cristo, tampouco viviam conforme os princípios do evangelho. Se o fossem, jamais teriam cobrado por esse tipo de prática, em obediência à ordem:

“Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai.” Mateus 10:8

Pode-se deduzir que esses judeus ambulantes eram, na verdade, homens de negócio que tinham o exorcismo como uma atividade profissional e remunerada. Não eram, portanto, servos do Senhor Jesus, nem discípulos dispostos a segui-lo e obedecê-lo, o que explica o resultado tão desastroso.

Embora os sete judeus ambulantes tivessem a fé para utilizar o nome de Jesus, eles não possuíam legitimidade espiritual, pois não haviam se rendido verdadeiramente ao Senhor Jesus, nem tinham sido revestidos e selados pelo Espírito de Deus (2 Coríntios 1:22, Efésios 1:13; 4:30).

A obediência é um requisito para quem deseja alcançar resultados extraordinários trabalhando com Deus. Pedro e os demais passaram a noite sem pegar peixe algum, mas pela manhã, quando eles conheceram Jesus e obedeceram ao comando do Mestre, o resultado foi impressionante!

“⁴ E, quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar. ⁵ E, respondendo Simão, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre a tua palavra, lançarei a rede. ⁶ E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede.” Lucas 5:4-6

Concluindo, a fé é um elemento fundamental para andarmos com Deus, devendo ser manifestada com firmeza e confiança, persistência e determinação, de forma legítima e acompanhada de um padrão de vida coerente com os ensinamentos de Cristo.

Glória a Deus!

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