“Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.” (1 Tessalonicenses 4:16,17)
O arrebatamento da Igreja é uma das verdades mais gloriosas da fé cristã, pois anuncia o momento em que os santos serão reunidos com Cristo em glória. A dificuldade, no entanto, está em determinar quando esse evento ocorrerá em relação ao período da grande tribulação, tempo de perseguição mundial e de domínio do anticristo.
O propósito deste estudo é demonstrar, à luz das Escrituras, que o arrebatamento da Igreja ocorrerá após a manifestação do anticristo, e alertar os cristãos para o perigo de uma esperança escatológica mal posicionada — aquela que supõe que a Igreja será retirada da Terra antes das provações finais.
1. Breve histórico do ensino pré-tribulacionista
A ideia de um arrebatamento anterior à tribulação foi sistematizada no início do século XIX. Entre os registros mais conhecidos, está o relato de Margaret MacDonald, uma jovem escocesa ligada ao movimento carismático dos Irvingitas, em 1830, na cidade de Port Glasgow.
Alguns estudiosos afirmam que o teólogo John Nelson Darby (1800–1882), fundador do movimento dos Irmãos de Plymouth, conheceu e adaptou esse conceito, difundindo-o através de sua teologia dispensacionalista. Mais tarde, C. I. Scofield incorporou essas ideias às notas de rodapé de sua Bíblia de Referência (1909), popularizando o pré-tribulacionismo no mundo de fala inglesa.
É verdade que a doutrina ganhou expressão sistemática recente, mas não se deve negar que, em séculos anteriores, alguns autores patrísticos e medievais já falavam de uma retirada dos santos antes da ira divina, embora sem a forma detalhada que Darby propôs. Assim, a novidade não é absoluta, mas a sistematização moderna é inegável.
Hoje, grande parte das denominações evangélicas adota o modelo pré-tribulacionista, muitas vezes sem examinar com cuidado seus fundamentos bíblicos.
2. Textos comumente usados pelos pré-tribulacionistas
1 – “E esperar dos céus o seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura.” 1 Tessalonicenses 1:10
A “ira futura” mencionada por Paulo não se refere à perseguição do anticristo, mas ao juízo final de Deus sobre os ímpios.
O apóstolo jamais prometeu que a Igreja seria poupada das aflições humanas ou satânicas, mas sim da ira divina (Ap 16:2,6).
A promessa é de preservação espiritual, não de evasão do sofrimento.
2 – “Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra.” Apocalipse 3:10
A promessa feita à Igreja de Filadélfia tem contexto histórico e cumprimento parcial já no primeiro século. As sete cartas do Apocalipse tratam de realidades históricas e espirituais de igrejas locais, antes da visão profética do capítulo 4 em diante.
A “hora da tentação” refere-se à perseguição que os cristãos enfrentariam sob o Império Romano (especialmente nos tempos de Domiciano). O texto não se refere, necessariamente, ao período escatológico da grande tribulação.
3- “E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado. Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora o retém até que do meio seja tirado; E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo Espírito da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda;” 2 Tessalonicenses 2:6-8
Algumas versões traduzem “tirado”, outras “afastado”. O termo grego (ginetai ek mesou) pode significar “deixar de impedir” ou “ser removido do meio”.
A melhor leitura é a de que o Espírito Santo deixará de conter a manifestação do iníquo, sem ser retirado do mundo. O Espírito é o penhor da redenção (2Co 5:5) e permanecerá atuando até a consumação.
Paulo também afirma, no início do capítulo, que “a nossa reunião com o Senhor” ocorrerá após a apostasia e a manifestação do homem do pecado — o que exclui a hipótese de um arrebatamento anterior.
4- “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.” Salmos 23:4,5
O texto expressa confiança em Deus mesmo em meio à morte, mas não serve como argumento para um livramento escapista.
A história da fé mostra que o povo de Deus, em todas as épocas, foi provado, perseguido e, muitas vezes, martirizado.
A fidelidade de Deus não está em nos tirar do vale, mas em nos sustentar dentro dele (Mateus 23:31-37, Lucas 21:16, Atos 7:59; Ap 20:4).
Textos que apontam para o pós-tribulacionismo
1- “ORA, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.” 2 Tessalonicenses 2:1-4
Paulo é claro: a vinda de Cristo e a nossa reunião com Ele não ocorrerão sem que antes venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado.
Se a Igreja não estivesse presente, não haveria razão para o apóstolo advertir os fiéis sobre esse evento.
Logo, a Igreja será testemunha do surgimento do anticristo e deverá permanecer firme até a vinda do Senhor.
2- “Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.” 1 Coríntios 15:51,52
A menção à “última trombeta” sugere uma sequência de juízos e não um evento separado.
Em Apocalipse 11:15, a sétima trombeta anuncia a instauração do Reino de Cristo.
A harmonia entre os textos indica que a transformação dos santos ocorre no final dos juízos, não antes deles.
Alguns estudiosos, porém, interpretam a trombeta de 1Coríntios como uma imagem litúrgica da Festa das Trombetas, sem relação direta com as trombetas de Apocalipse.
De qualquer modo, ambos os contextos apontam para a consumação, não para um evento prévio.
3- “Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma grande multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; […] E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos de vestes brancas, quem são, e de onde vieram? E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele disse-me: Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro.” Apocalipse 7:9,13-14
Essa “grande multidão” inclui crentes de todas as nações. São os redimidos que passaram pela tribulação e permaneceram fiéis.
O texto mostra que haverá salvação nesse período, mas não implica uma “segunda chance” após um arrebatamento anterior.
A salvação sempre se dá pela fé no Cordeiro, não em fases distintas de uma cronologia artificial.
4- “E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos.” Apocalipse 20:4-6
Essa é a primeira ressurreição, e ocorre após a perseguição do anticristo.
Se o arrebatamento já tivesse ocorrido antes, como explicar a presença desses mártires ressuscitados depois da tribulação?
O texto distingue apenas duas ressurreições: a dos justos (antes do milênio) e a dos ímpios (após o milênio).
Logo, o arrebatamento coincide com a primeira ressurreição, e não com um evento anterior.
5- “E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus.” Mateus 24:29-31
Jesus afirma expressamente que a reunião dos escolhidos ocorre depois da tribulação.
O texto harmoniza-se com 1 Tessalonicenses 4:16-17 e com Apocalipse 11:15, onde o som da trombeta marca o retorno do Senhor e o ajuntamento dos santos.
Os “escolhidos” mencionados não se limitam a Israel, mas abrangem todos os que pertencem a Cristo, de todas as nações (Ap 7:9).
4. Reflexão teológica e pastoral
A Escritura mostra que o povo de Deus nunca foi isento do sofrimento, mas fortalecido em meio a ele.
Os apóstolos foram perseguidos, os mártires deram suas vidas, e a Igreja, ao longo da história, cresceu sob pressão.
Não há base bíblica sólida para um arrebatamento que retire os santos do mundo antes da tribulação.
Ao contrário, o testemunho da fé cristã aponta para a perseverança até o fim (Mt 24:13; Ap 14:12).
Crer em um arrebatamento anterior pode gerar uma perigosa despreparação espiritual: se os cristãos esperam escapar das provações, podem ser surpreendidos quando estas vierem, e confundir a manifestação do anticristo com simples eventos políticos ou religiosos.
5. Conclusão
O ensino das Escrituras indica que:
- O arrebatamento e a segunda vinda de Cristo são um mesmo evento visto de perspectivas complementares;
- A Igreja passará pela grande tribulação, sendo provada e purificada;
- A manifestação do anticristo precederá a reunião dos santos com o Senhor;
- E a nossa esperança deve estar na fidelidade de Deus em meio às aflições, não em um livramento antecipado delas.
“E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições.” (2 Timóteo 3:12)
O verdadeiro preparo para a volta de Cristo não está em especular datas, mas em permanecer fiel.
Como sentinelas, devemos alertar o povo de Deus para permanecer firme quando o dia mau chegar, lembrando que, “depois da tribulação daqueles dias”, o Filho do Homem virá com poder e grande glória, e reunirá os seus escolhidos para reinar com Ele eternamente.





Comments
Olá gostaria de receber os estudos do apocalipse.
Na minha opiniao esse assunto deveria ser desenhado pra muita gente pra ficar mais facil o entendimento tanto pros e contra pra quem n tem muito conhecimento da biblia com eu sao muitas referencias biblicas e fica complicado fica a dica.Mas vou ler e estudar mais sobre o assunto .Obgda