Inicialmente, é importante esclarecer: ter um animal de estimação não é algo condenado pelas Escrituras Sagradas. Aqui em casa, por exemplo, temos uma cadelinha e um casal de calopsitas.
De fato, a Bíblia não trata diretamente da posse de animais domésticos, mas apresenta princípios que ajudam a regular essa relação, para que ela reflita a justiça e a ordem divina também dentro do lar.
Entre os judeus praticantes, o tema assume maior relevância, pois a presença de animais em casa pode exigir cuidados específicos em certas observâncias religiosas, como o shabat, a fim de que nenhuma proibição ritual seja violada — por exemplo, ao carregar, alimentar, limpar ou tratar um animal de modo que envolva esforço proibido.
Os animais no passado
Os animais foram criados por Deus e servem ao propósito designado pelo Criador, que delegou ao homem a tarefa de nomeá-los (Gênesis 2:19-20) e dominá-los (Gênesis 1:28).
Curiosamente, antes da queda, homens e animais se alimentavam apenas de ervas e frutos das plantas (Gênesis 1:29–30). Foi somente após o dilúvio que Deus autorizou o consumo de carne (Gênesis 9:3).
Por muito tempo, os animais serviram apenas a propósitos utilitários e existenciais para os homens, oferecendo força bruta, transporte, vestuário e segurança alimentar.
Embora a figura do animal doméstico já fosse uma realidade em antigos impérios, como no Egito por volta de 3.000 a.C. — onde gatos eram venerados e cães e macacos domesticados —, a ideia de manter um animal apenas por afeto e companhia é relativamente recente.
O surgimento dos pets
Foi apenas mais recentemente, após a Segunda Grande Guerra Mundial, que os animais domésticos passaram a se consolidar como companheiro emocional — passando a receber, inclusive, status de membro da família.
Com isso, uma indústria inteira surgiu para atender essa nova relação entre humanos e animais, oferecendo produtos e serviços antes inexistentes e transformando a afeição em um mercado multibilionário.
Entre as décadas de 1970 e 1980, com a urbanização crescente e a queda da natalidade, muitos passaram a atribuir aos pets o papel simbólico de “filhos substitutos” dentro dos lares.
No Brasil, esse fenômeno se intensificou: o país é hoje o 3º maior mercado pet do mundo, atrás apenas dos EUA e da China, um resultado impressionante, considerando que o país é apenas a 10ª maior economia do planeta. O mercado pet mundial já ultrapassa a marca dos US$ 300 bilhões anuais.
Sem dúvida, a indústria pet vem explorando esse lucrativo segmento, ao mesmo tempo em que incentiva o crescimento dele através de esforços publicitários, especialmente nas redes sociais, onde a atuação de “influenciadores pet” tem contribuído para esse aumento.
O que a Bíblia condena?
Todo esse esforço da indústria, aliado ao apelo emocional e às decisões impensadas na hora de adotar um pet, vem provocando uma série de comportamentos reprováveis segundo as Escrituras Sagradas — alguns dos quais veremos a seguir.
1. Atribuir valor excessivo
Um erro comum é atribuir aos animais um valor desproporcional, dedicando-lhes mais tempo, atenção e recursos do que se dedica a outras pessoas — ou até a Deus.
As Escrituras, porém, são claras: Deus deve ser amado acima de todas as coisas (Mateus 22:36-40), e a vida humana tem valor superior à dos animais (Gênesis 1:26–28; Mateus 10:29-31).
Não são raros os que afirmam: “Dou mais valor aos animais do que aos seres humanos.” Embora essa frase possa parecer compreensível diante da corrupção moral da humanidade, ela revela um desalinhamento espiritual, muitas vezes alimentado por mágoas e decepções que acabam distorcendo o amor bíblico e o senso de prioridade.
2. Substituir o amor ao próximo
Outro erro comum é transferir ao animal um afeto que deveria ser direcionado a pessoas. O amor, segundo a Bíblia, é relacional e comunitário — ele se expressa em atos concretos de misericórdia, perdão e cuidado mútuo.
Quando alguém canaliza todo o seu amor e atenção apenas para o pet, negligenciando a convivência e o relacionamento humano, acaba contrariando o propósito divino. Desde o princípio, Deus declarou:
“Não é bom que o homem esteja só” (Gênesis 2:18).
O isolamento afetivo e social — ainda que suavizado pela presença de um animal — não supre a necessidade espiritual de comunhão humana, algo que pode ser vivenciado em um ambiente congregacional, por exemplo. O amor ao próximo é uma ordenança direta de Cristo (Mateus 22:39), e não pode ser substituído por laços afetivos com a criação.
3. Servir mais à criatura do que ao Criador
Alguns chegam a desenvolver um apego tão intenso aos pets que isso passa a competir com o tempo e o espaço que deveriam ser dedicados à oração, leitura da Palavra e convivência com a comunidade de fé.
Quando o cuidado ou o afeto por um animal se tornam uma obsessão, o relacionamento com Deus é comprometido.
Esse tipo de apego pode parecer inofensivo, mas espiritualmente revela uma inversão de prioridades, pois o Criador jamais deve ser substituído pela criação (Romanos 1:25).
4. Gastar com luxos animais enquanto ignora necessidades humanas
Outro comportamento reprovável ocorre quando pessoas gastam valores excessivos com produtos, acessórios ou tratamentos de luxo para seus animais, mas fecham o coração diante da miséria humana.
O apóstolo João adverte:
“Se alguém possuir recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus?” (1 João 3:17).
Cuidar bem de um animal é correto e até louvável; mas fazê-lo de forma ostentatória ou desproporcional, enquanto o próximo passa fome ou frio, é espiritualmente incoerente e moralmente injustificável.
O verdadeiro amor cristão não se expressa em luxo, mas em compaixão.
5. Superstição e crenças espirituais envolvendo animais
Em alguns contextos, há quem atribua aos animais poderes espirituais, protetores ou energias positivas, práticas que se aproximam da superstição e do sincretismo religioso.
A Palavra de Deus é categórica:
“Não se ache entre ti quem… pratique adivinhação, ou seja agoureiro (supersticioso), ou feiticeiro, ou encantador, ou quem consulte os mortos… Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor” (Deuteronômio 18:9–12).
Quando os animais são elevados à condição de amuletos ou mediadores espirituais, há uma violação direta do primeiro mandamento (Êxodo 20:3). O cristão deve amar e respeitar a criação, mas jamais atribuir-lhe poderes que pertencem unicamente ao Criador.
6. Desordem no lar
Outro problema comum é quando a presença dos animais gera desorganização, sujeira, conflitos familiares ou inversão de prioridades dentro do lar.
Deus é um Deus de ordem (1 Coríntios 14:33), e essa característica deve refletir-se também no ambiente doméstico. Um lar espiritualmente equilibrado é aquele em que cada área da vida — inclusive o cuidado com os animais — está sob controle e harmonia.
Quando os pets ocupam espaços indevidos, comprometem a limpeza, perturbam o descanso ou se tornam motivo constante de discórdia, a ordem divina é substituída por confusão.
Há casos em que o lar, antes lugar de paz, se torna um ambiente caótico, dominado por latidos, pelos, mau cheiro e tensões, o que revela que algo se perdeu no equilíbrio espiritual e familiar.
Cuidar bem de um animal não deve significar descuidar da casa, da família ou da comunhão com Deus. O lar deve continuar sendo um espaço de edificação, e não de desordem.
Por isso, a fim de que a justiça e a ordem de Deus sejam refletidas no lar, limites e regras claras envolvendo o cuidado da casa e do animal devem ser observados por todos.
7. Maltratar ou negligenciar o animal sob o pretexto de “domínio”
Infelizmente, o apelo emocional das redes e da mídia também leva muitos a adotar animais por impulso, sem preparo ou condições reais. Mais tarde, acabam prejudicando a si mesmos e aos próprios animais, resultando em maus-tratos e abandonos, o que é duplamente reprovável diante de Deus e da sociedade.
Há ainda quem abuse da autoridade que Deus concedeu ao homem sobre os animais, confundindo domínio com opressão.
A ordem de Gênesis 1:28 — “dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves do céu, e sobre todo animal que se move sobre a terra” — não autoriza crueldade, negligência ou abandono. O verdadeiro domínio implica responsabilidade, cuidado e mordomia fiel da criação.
Provérbios 12:10 declara:
“O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos ímpios é cruel.”
Cuidar bem dos animais não é luxo, mas expressão de justiça e compaixão — marcas do caráter de Deus refletidas no homem.
Conclusão
O amor aos animais é legítimo e pode refletir a ternura do Criador. Contudo, quando esse afeto se transforma em idolatria, desequilíbrio, negligência espiritual, descuido do lar ou maus tratos, o cristão precisa reavaliar seus atos à luz das Escrituras.
O amor aos animais é legítimo e pode refletir a ternura do Criador. Contudo, quando esse afeto se transforma em idolatria, desequilíbrio, negligência espiritual, descuido do lar ou maus-tratos, o cristão deve reavaliar seus atos à luz das Escrituras, buscando honrar a Deus em todas as suas relações e responsabilidades.
O verdadeiro amor é aquele que honra a Deus, valoriza o próximo e trata a criação com respeito — sem inverter os papéis entre o Criador e suas criaturas.




