Defesa da fé

Um rapaz que se autodenomina “satanista” publicou um vídeo em uma rede social com o objetivo de atacar as Escrituras Sagradas e o próprio Deus, apresentando textos isolados sobre mortes por apedrejamento no Antigo Testamento e lançando dúvidas sobre o amor divino

Inicialmente, é importante registrar que a Bíblia foi escrita em contextos culturais específicos, que não refletem os valores morais absolutos, mas sim a forma como Deus se comunicava progressivamente com povos em realidades extremamente duras.

O pano de fundo por trás do Antigo Testamento é um Oriente Médio formado por sociedades tribais, patriarcais, muitas delas extremamente violentas. Naquele contexto, que era temporário, as leis mosaicas eram mais brandas e justas que as de outras nações da época (como as do Código de Hamurabi).

Um exemplo disso é o tratamento dado a pessoa que, sem intenção, causasse a morte de alguém. Observe:

“O Senhor Deus ordenou a Josué:
— Diga ao povo de Israel: “Escolham algumas cidades para fugitivos. Eu falei dessas cidades a vocês por meio de Moisés. A pessoa que, sem querer ou por engano, matar alguém poderá fugir para uma dessas cidades, para escapar do parente da vítima, que está procurando vingança. O fugitivo irá ao lugar de julgamento na entrada da cidade e explicará aos líderes o que aconteceu. Então eles o deixarão ficar na cidade e lhe darão um lugar para morar ali. O povo da cidade não entregará o fugitivo ao parente que está procurando vingança. Eles protegerão o fugitivo porque matou alguém sem querer e não por ódio. O fugitivo ficará na cidade até ser julgado na presença do povo dali e até que morra o Grande Sacerdote que estiver servindo naquele tempo. Aí poderá voltar para a sua cidade, a cidade de onde fugiu.” Josué 20:1-6

Mesmo no Antigo Testamento, encontramos inúmeras figuras de Cristo e de sua ação redentora, sendo as cidades refúgios uma delas.

A cidade refúgio e o Grande Sacerdote referidos no texto são elementos que apontam para o Senhor Jesus Cristo, nosso Grande Sacerdote (Hebreus 7:27) e para a finalidade de sua morte: nos livrar da condenação pelos nossos pecados, pois morrendo o Grande Sacerdote, o pecador (o homicida involuntário) não poderia mais ser punido, mesmo fora da cidade refúgio.

As leis tinham uma função civil e judicial para Israel, um povo nômade e em formação. Não eram universais nem eternas, mas parte de uma aliança específica, que atendia às demandas daquele momento.

A Lei foi dada por causa da dureza do coração humano (cf. Mateus 19:8), como uma medida provisória, até a vinda de Cristo, portanto com data marcada para acabar:

“De modo que a lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé.” Gálatas 3:24

A lei não era o modelo definitivo e final, mas uma forma momentânea de conter o mal em uma sociedade primitiva, embora alguns elementos de misericórdia já estivessem presentes.

Mesmo assim, muitos dos homens que viveram sob os cuidados da lei no período da antiga aliança não entenderam o plano de Deus sobre o exercício da misericórdia, apesar dos avisos dados de profetas, a exemplo de Oséias e Zacarias:

“E a palavra do Senhor veio a Zacarias, dizendo: Assim falou o Senhor dos Exércitos, dizendo: Executai juízo verdadeiro, mostrai piedade e misericórdia cada um para com seu irmão. E não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente cada um, em seu coração, o mal contra o seu irmão. Eles, porém, não quiseram escutar, e deram-me o ombro rebelde, e ensurdeceram os seus ouvidos, para que não ouvissem.” Zacarias 7:8-11

A misericórdia é o ato de não dar ao outro o castigo que ele merece, oferecendo perdão, ajuda ou compreensão, movido por compaixão, mesmo quando uma lei o autoriza a exercer o juízo.

Vemos em José um exemplo de ato de misericórdia, quando optou por não invocar a aplicação da lei do apedrejamento pelo fato de Maria estar grávida sem a participação dele, o que lhe rendeu o título de “justo”.

“Por ser José, seu marido, um homem justo, e não querendo expô-la à desonra pública, pretendia anular o casamento secretamente..” Mateus 1:19

Sob a nova aliança, o Senhor Jesus revelou o ideal divino (Mateus 5–7), quando chamou o povo a amar o inimigo, perdoar e buscar a prática da justiça de Deus, expondo mais detidamente a importância do exercício da misericórdia, algo que foi repetido pelos seus discípulos.

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;” Mateus 5:7

“Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.” Tiago 2:13

Para Deus, o exercício da misericórdia é mais desejado do que a aplicação da lei, que é, por si própria, uma espécie de figura para a gravidade das consequências para o pecado: a morte!

A Bíblia é uma narrativa progressiva e Cristo é a revelação final e perfeita de quem Deus é, algo que Moisés não podia alcançar com o antigo sistema legal e transitório.

Portanto o rapaz erra por não conhecer as Escrituras Sagradas, a progressividade da revelação, o mistério da misericórdia (mesmo sob a Antiga Aliança) e o caráter e justiça de Deus, que é o único digno de ser adorado.

A Deus toda honra e glória, porque Ele realmente merece.

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