“Não é verdade que Deus criou um único ser, feito de carne e de espírito? E o que é que Deus quer dele? Que tenha filhos que sejam dedicados a Deus. Portanto, tenham cuidado para que nenhum de vocês seja infiel à sua mulher. Pois o Senhor Todo-Poderoso de Israel diz: — Eu odeio o divórcio; eu odeio o homem que faz uma coisa tão cruel assim. Portanto, tenham cuidado, e que ninguém seja infiel à sua mulher.” Malaquias 2:15-16
Casar-se e ter filhos, isto é, constituir família, é um projeto de Deus para os homens. É isso que Deus quer, como visto acima. A única forma de uma nova família nascer é por meio do casamento entre um homem e uma mulher.
O casamento é algo sério e os efeitos dele decorrentes causam repercussões também no mundo espiritual. Ele é um daqueles exemplos típicos enquadrados no texto que diz: “tudo o que vocês ligarem na terra terá sido ligado no céu”. Mateus 18:18.
Sendo o casamento um vínculo tão importante assim também para Deus, ele não pode ser rompido por qualquer motivo, pois Deus realmente odeia o divórcio. Se dependesse de Deus, o divórcio não existiria, mas por causa da dureza dos corações dos homens, ele foi permitido apenas no caso de adultério, como consta no Evangelho:
“— Foi dito também: ‘Quem mandar a sua esposa embora deverá dar a ela um documento de divórcio.‘ Mas eu lhes digo: todo homem que mandar a sua esposa embora, a não ser em caso de adultério, será culpado de fazer com que ela se torne adúltera, se ela casar de novo. E o homem que casar com ela também cometerá adultério.” (Mateus 5:31-32)
Dada a importância do assunto, mais tarde o Senhor Jesus o comentou novamente:
“Disseram-lhe eles: Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la?. Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim. Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.” (Mateus 19:7-9)
Segundo o Evangelho, em vida, duas pessoas casadas só poderão se divorciar se uma delas cometer adultério e a reconciliação não for alcançada. Embora o perdão seja sempre requerido em qualquer caso, o ônus de manter-se unido ao cônjuge traidor será retirado, mesmo que isso desagrade a Deus, que se mantém unido a nós, mesmo que nós sejamos infiéis (2 Timóteo 2:13).
Nesse caso, a pessoa que despediu o cônjuge adúltero poderá casar novamente e Deus reconhecerá esse novo vínculo. Qualquer rompimento por outro motivo não será reconhecido por Deus, o que explica o fato de essas pessoas divorciadas, mesmo casando com outras novamente, estarão em estado de adultério permanentemente, inclusive os atuais cônjuges.
Além da exceção já mencionada, falecendo um dos cônjuges, o viúvo poderá casar novamente, sem que isso o(a) coloque em situação de adultério, conforme o texto bíblico:
“A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor.” 1 Coríntios 7:39
Ao dizer “contanto que seja no Senhor”, o apóstolo quer dizer que o novo cônjuge deve ter a mesma fé no Senhor Jesus Cristo. Além disso, caso se trate de uma pessoa divorciada, o motivo do divórcio deve ser considerado. Se for devido ao adultério do antigo cônjuge, estará apto para se casar novamente.
Como visto, a única opção aceita por Deus para que ocorra um divórcio é o adultério, mesmo a contragosto. Nesse sentido, muitos questionamentos envolvendo inúmeras situações podem surgir, como, por exemplo, a questão do término de relacionamentos em que um dos cônjuges esteja agindo de forma violenta. Nesses casos, é possível obter um divórcio reconhecido no céu? A resposta é “muito provavelmente sim” e eu explicarei o motivo a seguir.
Normalmente, quando um dos cônjuges pratica a violência contra o outro, é porque já não o respeita mais. Ora, se inexiste o respeito pela integridade física e emocional da pessoa com quem se casou, que é o mínimo que se espera numa relação, certamente esse cônjuge também não se preocupará com a questão da fidelidade.
É praticamente certo que o cônjuge violento ou desinteressado na relação já esteja na prática do adultério, provavelmente até mantendo relações sexuais ilícitas e rotineiras fora do casamento. Mesmo que tais atos finais não tenham sido concretizados, no mínimo terá desejado outras pessoas, caindo no pecado descrito em Mateus 5:28, validando assim o divórcio com direito a um novo casamento.
O comportamento agressivo e violento acontece porque a prática do adultério, principalmente das relações sexuais ilícitas, abre brechas para a atuação de espíritos malignos cada vez mais perigosos, os quais se apossam do escravo e o utilizam para cometer as tais violências contra o verdadeiro cônjuge.
Nesse sentido, o rompimento de um casamento com um parceiro agressivo não se daria por causa da agressividade, mas sim por causa do adultério. Como é relativamente fácil perceber se uma pessoa está sendo fiel ou não, a vítima da violência já teria o argumento necessário para formalizar o rompimento de uma forma totalmente regular e com direito a um novo casamento, nos termos explicados pelo Senhor Jesus.
Mas vamos supor que a pessoa seja cem porcento fiel ao seu parceiro e, ainda assim apresente conduta agressiva e violenta contra ele. Nesse caso hipotético e, na minha opinião, impossível de acontecer, a Bíblia daria margem para o divórcio com direito a um novo casamento? A resposta é “não”, sem dúvida alguma.
Embora não seja possível o divórcio com direito a novo casamento, a Bíblia não impede que a vítima de violência se aparte do seu cônjuge agressivo. É o que se observa no seguinte texto:
“Todavia, aos casados mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido. Se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher.” 1 Coríntios 7:10-11
O texto abre a possibilidade de separação física entre um homem e uma mulher (apartar: grego χωρίζω /chórizó: separar/dividir), mas não admite que se case novamente, pois isso seria adultério, pois o vínculo do casamento ainda existirá para Deus. Tanto é verdade que o texto recomenda que se busque a reconciliação, se possível.
Outra situação é quando um dos cônjuges, por qualquer outro motivo diferente do adultério, inclusive motivos banais, resolva se separar. Nesse caso, o cônjuge repudiado indevidamente e temente a Deus não poderá se casar novamente, a fim de não cometer adultério. Caso o antigo cônjuge faleça, a pessoa repudiada finalmente estará livre para se casar novamente. Embora isso pareça soar radical, é o que se extrai da análise dos ensinos bíblicos, tamanha é a importância do casamento para Deus.
Como podemos ver, o casamento é algo muito sério e não pode ser desfeito por qualquer motivo. Todo crente deveria estar bastante atento quanto a tudo isso, a fim de tomar muito cuidado ao escolher a pessoa com a qual planeja envelhecer junto.
Não é tarefa fácil encontrar a “pessoa certa” (eu não disse a pessoa perfeita), mas alguns cuidados básicos devem ser tomados e algumas perguntas devem ser feitas, inclusive para terceiros (parentes), com a sabedoria que a situação requer.
Os comportamentos da pessoa desejada devem ser observados com atenção, a maneira como ela trata os pais e a família, no que acredita, quem são seus amigos, quais as manias, os costumes, os vícios, o hobbies, o nível de ciúme, se é preguiçoso, desorganizado, se tem problemas crônicos de saúde e se está disposto a lidar com eles até o fim etc. Tudo deve ser considerado. É melhor ser criterioso e chato no início do que fazer algo que Deus odeia lá na frente, ao buscar o divórcio.
Portanto jamais se case com alguém esperando que essa pessoa possa mudar em algum aspecto com o qual você não concorde. Embora essa pessoa possa mudar para melhor futuramente, isso não é uma garantia. Não se una a uma pessoa que não têm a sua mesma fé e cosmovisão. Se mesmo assim desejar seguir em frente, esteja pronto(a) para arcar com as consequências, tais como participar dos cultos sem a presença de seu cônjuge ou mesmo ser impedido por ele de participar dessas reuniões, embora isso seja um tipo de violência.
Antes de comprar uma casa ou um carro usado, as pessoas fazem inúmeras perguntas, verificam a documentação, consultam a opinião de terceiros e especialistas, analisam se o bem desejado atenderá às necessidades pessoais, tudo isso antes de fechar um negócio. Porém para escolher o parceiro de suas vidas, elas agem de forma impulsiva e descuidada, para somente mais tarde perceberem que cometeram um grande erro.
É verdade que algumas pessoas mudam para pior com o tempo, e algumas muito rapidamente, mas sempre é possível perceber os sinais. Eles não podem ser ignorados. Como a paixão cega a razão, ouvir a opinião de pessoas nas quais você confia é fundamental.
A fim de evitar um cônjuge violento, por exemplo, investigue o passado dessa pessoa e tenha muita cautela. Pessoas violentas normalmente sofreram situações de violência no passado, quando jovens. Quase sempre, elas tiveram um lar problemático, geralmente afetado pela presença do álcool ou drogas e com pais divorciados.
Pessoas que foram verdadeiramente curadas pelo Senhor Jesus não são uma ameaça, mesmo que tenham um passado conturbado. Mas se não for este o caso, não siga em frente com um relacionamento que está fadado a fracassar, mesmo que a pessoa pretendida seja assídua frequentadora das reuniões da igreja. Isso não quer dizer muita coisa, pois o joio sempre estará presente até a volta do Senhor Jesus.
“Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro.” (Mateus 13:30)
Além das questões já mencionadas, o divórcio pode afetar profundamente os filhos do casal, os quais poderão carregar marcas e maldições pelo resto da vida deles.
Segundo dados de pesquisas, o processo de divórcio afeta a saúde mental das crianças, provocando desânimo, ansiedade, perda no rendimento escolar, transtornos do sono, alimentação, adoção de condutas regressivas, baixa autoestima, estresse, síndrome do pânico, depressão e até pensamentos suicidas.
Além disso, filhos de pais divorciados correm um risco maior de desenvolver problemas de saúde, sendo 35% contra 26%. Pesquisas indicam ainda que filhos de pais divorciados têm maior chance de ingressar no mundo do crime, têm duas vezes mais chances de se divorciarem no futuro e podem ter uma morte precoce.
Portanto se alguém está pensando em se divorciar, esta é uma decisão que impactará outras pessoas, especialmente os filhos. Por causa deles, e sendo possível, o caminho da reconciliação (perdão) deve ser tentado. Entregar a situação nas mãos do Senhor Jesus e deixar que Ele cuide de tudo é a melhor coisa a fazer num primeiro momento. Apenas quem realmente confia em Deus é capaz de conceder a Ele um tempo para Ele trabalhar.
Por fim, vale mencionar que várias pessoas abraçaram a fé cristã depois de levarem uma vida de forma desregrada, casando-se e dando-se em casamento, trocando de cônjuge por qualquer motivo não aceito, às vezes constituindo duas ou mais famílias e gerando filhos de casamentos distintos. Nesses casos, pode ser simplesmente impossível resolver os erros do passado relacionados ao assunto.
Dados estatísticos recentes apontam que o número de divórcios cresce a cada ano e que os principais motivos alternam entre desajustes sexuais e crises financeiras, inclusive as advindas do vício em bets (apostas), superando com larga margem os rompimentos relacionados à infidelidade. Como Deus lidará com essas situações que parecem se multiplicar pelo mundo? A resposta está mesmo nas Escrituras:
“Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam;” Atos 17:30
De modo geral, as pessoas devem reconhecer que erraram e pecaram contra Deus, buscando o perdão com arrependimento. O passado de erros não pode ser apagado de outra forma, a não ser pelo sangue do Cordeiro de Deus, derramado voluntariamente na cruz pelo Senhor Jesus Cristo.
A Bíblia diz que todo o tipo de pecado será perdoado ao homem, inclusive o adultério resultante de uniões e separações ilícitas. O único pecado que não tem perdão, no entanto, é a blasfêmia contra o Espírito Santo (Mateus 12:31).
Portanto se hoje você se encontra numa situação conjugal irregular irremediável, apresente seu caso a Deus e se humilhe. Embora Ele já saiba de tudo, confesse o seu pecado a Deus e peça perdão por ter cometido esse erro e tenha a plena confiança de que o sangue do Cordeiro foi derramado para quitar a sua dívida também.
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Se me é permitido, partilho aqui um artigo que escrevi sobre “Casamento, divórcio e novo casamento”, no sentido de recuperar os princípios e orientações bíblicas em relação a cada um destes temas, para além do que a tradição foi construindo, ao longo dos tempos: https://vidaemabundancia.blogspot.com/2024/11/casamento-divorcio-e-novo-casamento.html
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Grato pelo seu comentário.