Existem diversas referências bíblicas para nos advertir sobre a necessidade de estudar a Palavra de Deus. Observe algumas delas:
“Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra. (…) Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos.” Oséias 6:3,6
“E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem.” Deuteronômio 8:3
“O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.” Oséias 4:6
“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.” Apocalipse 1:3
O problema é que nem sempre a leitura dos textos bíblicos é uma tarefa fácil. Se não tivermos alguns cuidados nos estudos, chegaremos a conclusões particulares bem distantes das verdades bíblicas.
A fim de nos aproximar mais destas verdades, devemos, na ocasião da leitura, considerar o destinatário do texto, observar a aliança em vigor, verificar o contexto histórico, social, político, comparar o texto nas diferentes versões, verificar o que outros textos dizem em relação ao mesmo assunto, etc. Veja a seguir alguns exemplos::
DESTINATÁRIO DO TEXTO: “Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação.” Ml 3:9
A mensagem de Malaquias foi dirigida à nação de Israel, e não às demais. Portanto a maldição do devorador (espécie de gafanhoto) afetaria apenas aquela nação. Da mesma forma, a promessa de enriquecimento também valeria apenas para Israel, e não para a igreja.
ALIANÇA EM VIGOR: Não é porque um texto está no Novo Testamento que ele se aplica à igreja:
“E, eis que veio um leproso, e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo. E Jesus, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: Quero; sê limpo. E logo ficou purificado da lepra. Disse-lhe então Jesus: Olha, não o digas a alguém, mas vai, mostra-te ao sacerdote, e presenta a oferta que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho.” Mateus 8:2-4
Na ocasião relatada acima, a aliança em vigor ainda não era a da graça, mas a da lei, pois diante de uma situação de cura, já não é mais necessário oferecer ao sacerdote a oferta da qual falou o Senhor Jesus Cristo.
A falta de entendimento acerca disso fez com que Paulo repreendesse aqueles que guardavam o sábado ou qualquer outro dia (Gálatas 4:9-11), porque na aliança da graça, essa prática já não faz mais sentido, uma vez que o perdão e salvação se dá pela graça.
Ainda que algumas mulheres tenham guardado o sábado após a morte de Cristo (Lucas 23:56), esse exemplo não deve ser repetido por nós, porque elas ainda viviam sob o costume da aliança da Lei. A aliança da graça iniciou apenas após a ressurreição de Cristo e o comissionamento em Atos 1:8.
Além disso, o sábado é colocado cristalinamente como uma sombra do que haveria de vir, isto é, Cristo.
“Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Essas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo” Colossenses 2:16-17.
Ainda sobre o mesmo assunto, Paulo registra:
“Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem-definida em sua própria mente. 6 Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus.” Romanos 14:5-6
Da mesma forma, não é porque um texto está no Velho Testamento que ele não pode possuir aplicação para os nossos dias. Observe:
“E, quanto aos dez chifres, daquele mesmo reino se levantarão dez reis; e depois deles se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a três reis. E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues na sua mão, por um tempo, e tempos, e a metade de um tempo.” (Daniel 7:24,25)
Daniel viveu no período da aliança legal, mas seu livro está repleto de profecias que se cumprirão nos tempos atuais, já no período da aliança da graça.
CONTEXTO
“Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada.” 1 Coríntios 11:5
Uma parcela da igreja atual acredita que as mulheres devem usar um lenço sobre a cabeça para participar de seus cultos. A ordenança está fundamentada no versículo acima que, se lido isoladamente, parece mesmo determinar essa prática.
Porém quando observamos o contexto social, histórico e geográfico, devemos considerar que havia em Corinto um grupo de mulheres que se prostituía e era adorador de uma falsa deusa chamada Afrodite.
A marca característica dessas mulheres era possuir a cabeça raspada ou os cabelos bem curtos.
Assim, para evitar eventuais transtornos e constrangimentos com os filhos da fé e com os ímpios, essas mulheres eram orientadas a utilizar o véu.
Paulo realmente recomenda para as mulheres daquela comunidade o uso do véu, mas somente para as mulheres que tinham a cabeça raspada ou o cabelo muito curto.
As irmãs cujos cabelos fossem compridos estavam dispensadas do uso do véu, conforme o quase invisível versículo que diz:
“Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu.” (1 Coríntios 11:15).
A ordem sobre o uso do véu foi dada num contexto específico e só aparece na carta aos Coríntios. Não cabe em nossa realidade, pois não há qualquer associação entre cabelo curto e prostituição ou adoração a um falso deus em nossa cultura, como havia em Corinto.
DIFERENTES VERSÕES
Uma das melhores formas de resolver dúvidas rapidamente é comparar textos das diferentes versões da Bíblia. Observemos o texto a seguir, na versão Almeida Corrigida e Fiel:
“Porque todas as suas mesas estão cheias de vômitos e imundícia, e não há lugar limpo. A quem, pois, se ensinaria o conhecimento? E a quem se daria a entender doutrina? Ao desmamado do leite, e ao arrancado dos seios? Porque é mandamento sobre mandamento, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali. Assim por lábios gaguejantes, e por outra língua, falará a este povo. Ao qual disse: Este é o descanso, dai descanso ao cansado; e este é o refrigério; porém não quiseram ouvir. Assim, pois, a palavra do Senhor lhes será mandamento sobre mandamento, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali; para que vão, e caiam para trás, e se quebrantem e se enlacem, e sejam presos.” Isaías 28:8-13
A leitura limitada a apenas uma versão pode prejudicar o correto entendimento do texto. Nesse caso, ao que parece, Deus está nos dizendo, dentre outras coisas, que a Bíblia deve ser estudada considerando que os ensinamentos estão espalhados por toda a parte nas Escrituras. Embora isso seja um fato, não foi isso que o profeta realmente quis dizer. Para ficar mais claro, verifiquemos o mesmo trecho em uma versão diferente (NTLH – Nova Tradução na Linguagem de Hoje):
“8 As suas mesas estão cobertas de vômito, não há um só lugar que esteja limpo. 9 Eles falam mal de mim e perguntam: “A quem é que esse profeta está querendo ensinar? Será que ele pensa que vai explicar a mensagem para nós? Será que somos bebês desmamados há pouco tempo? 10 Ele está pensando que nós somos crianças e quer nos ensinar o beabá.” 11 Se vocês não quiserem ouvir o que eu digo, então o Senhor falará com vocês por meio de estrangeiros, que falam uma língua estranha. 12 Há tempo, eu disse a vocês: “Deus lhes dará descanso; ele lhes dará segurança. Aqui vocês estarão seguros.” Mas vocês não quiseram ouvir. 13 Por isso, o Senhor vai ensinar-lhes o beabá, como se vocês fossem crianças. Então vocês tentarão andar, mas cairão de costas; serão feridos, cairão em armadilhas e serão presos.”
No primeiro texto, há uma incoerência textual, uma quebra na ligação entre as perguntas “A quem pois (…) e ao arrancado dos seios?” e a sequência do texto “mandamento sobre mandamento (…) um pouco ali”.
No segundo texto, essa ligação não está comprometida e todo o fragmento “mandamento sobre mandato (…) um pouco ali” é substituído pela expressão “beabá”.
Isso acontece porque o texto em hebraico, nessa parte do versículo, não possui uma tradução exata e um sentido lógico, mas corresponde apenas a uma onomatopeia do que o profeta falou, uma espécie de imitação barata com sons inventados e com intenção de ridicularizá-lo. É como se eles estivessem dizendo, em nossa língua: “blá-blá-blá”, debochando da repreensão do homem de Deus.
Na versão NTLH, a palavra “beabá” substituiu a expressão onomatopéica çav laçav, çav laçav; qav laqav, qav laqav; ze’êr sham, ze’êr sham, a qual não se deveria traduzir por “mandamento sobre mandato (…) um pouco ali”.
Por isso mesmo também a Bíblia de Jerusalém, uma das mais aclamadas versões da Bíblia no meio teológico, não traduz o fragmento em questão. Observe:
“Com efeito, todas as suas mesas estão cheias de vômito e de imundície já não há um lugar limpo. A quem ensinará ele o conhecimento? A quem fará ele entender o que foi dito? A crianças apenas desmamadas, apenas tiradas do seio, quando diz: çav laçav, çav laçav; qav laqav, qav laqav; ze’êr sham, ze’êr sham. Com efeito, é com lábios gaguejantes e em uma língua estranha que ele falará a este povo. Ele lhes dissera: “Este é o repouso! Dai repouso ao cansado: este é um lugar tranquilo.” Mas não quiseram escutar. Diante disso a palavra de Iahweh para eles será: çav laçav, çav laçav; qav laqav, qav laqav; ze’êr sham, ze’êr sham, a fim de que ao caminharem caiam para trás, e se despedacem, ao serem apanhados no laço e aprisionados.
LEITURA SISTEMÁTICA
Procurar por toda a Bíblia textos que falem sobre um mesmo assunto é uma das melhores maneiras de chegarmos a um entendimento mais amplo e preciso sobre o tema estudado. O próprio Senhor Jesus utilizou essa técnica para ensinar aos seus discípulos. Observe:
“E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes [a dois discípulos] o que constava a respeito dEle em todas as Escrituras. (…) E disse-lhes: “Foi isso que Eu lhes falei enquanto ainda estava com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a Meu respeito está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. Então lhes abriu o entendimento, para que pudessem compreender as Escrituras. (Lucas 24:27, 44-45)
Observe um outra situação para praticar:
“E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos; Para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele.” Judas 1:14,15
O texto não entra em detalhes acerca dos santos que virão com o Senhor. Porém ao pesquisar o mesmo assunto em outro livro da Bíblia, observamos que o Senhor virá com os seus santos anjos.
“E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória;” (Mateus 25:31)
Com a utilização das técnicas acima, o entendimento acerca dos assuntos estudados será consideravelmente maior e mais preciso.